O consumo excessivo em países ricos e o rápido crescimento
populacional nos países mais pobres precisam ser controlados para que a
humanidade possa viver de forma sustentável.
Níveis de consumo em países ricos são motivo de preocupação |
A conclusão é de um estudo de dois anos de um grupo de especialistas
coordenados pela Royal Society (associação britânica de cientistas).
Entre as recomendações dos cientistas estão dar a todas as mulheres o acesso
a planejamento familiar, deixar de usar o Produto Interno Bruto (PIB) como um
indicativo de saúde econômica e reduzir o desperdício de comida.
O relatório da Royal Society será um dos referenciais para as discussões da
Rio+20, cúpula que acontecerá na capital fluminense em junho próximo.
"Este é um período de extrema importância para a população e para o planeta,
com mudanças profundas na saúde humana e na natureza", disse John Sulston,
presidente do grupo responsável pelo relatório.
"Para onde vamos depende da vontade humana - não é algo predestinado, não é
um ato de qualquer coisa fora (do controle) da humanidade, está em nossas
mãos".
John Sulston ganhou renome internacional ao liderar a equipe britânica que
participou do Human Genome Project, projeto responsável pelo mapeamento do
genoma humano.
Em 2002, ele foi ganhador, junto com outro cientista, de um prêmio Nobel de
Medicina, e hoje é diretor do Institute for Science Ethics and Innovation, na
Manchester University, em Manchester.
Discussão retomada
Embora o tamanho da população humana da Terra fosse no passado um importante
ponto de discussão em debates sobre o meio ambiente, o assunto saiu da pauta de
discussões recentemente.
A expansão populacional ameaça a espécie das abelhas, fator não computado no cálculo do PIB |
Em parte, isso aconteceu porque alguns cientistas chegaram à conclusão de que
a Terra seria capaz de suportar mais pessoas do que o imaginado. Além disso,
países em desenvolvimento passaram a considerar a questão como uma cortina de
fumaça criada por nações ocidentais para mascarar o problema do excesso de
consumo.
Entretanto, o tema voltou à pauta de discussões após novos estudos terem
mostrado que mulheres em países mais pobres, de maneira geral, desejam ter
acesso ao planejamento familiar, o que traria benefícios à suas comunidades.
Segundo a projeção "média" da ONU, a população do planeta, atualmente com 7
bilhões de pessoas, atingiria um pico de pouco mais de 10 bilhões no final do
século e depois começaria a cair.
"Dos três bilhões extra de pessoas que esperamos ter, a maioria virá dos
países menos desenvolvidos", disse Eliya Zulu, diretora execuriva do African
Institute for Development Policy, em Nairóbi, no Quênia. "Só na África, a
população deve aumentar em 2 bilhões".
"Temos de investir em planejamento familiar nesses países - (desta forma,)
damos poder às mulheres, melhoramos a saúde da criança e da mãe e damos maior
oportunidade aos países mais pobres de investir em educação".
O relatório recomenda que nações desenvolvidas apoiem o acesso universal ao
planejamento familiar - o que, o estudo calcula, custaria US$ 6 bilhões por
ano.
Se o índice de fertilidade nos países menos desenvolvidos não cair para os
níveis observados no resto do mundo - alerta o documento - a população do
planeta em 2100 pode chegar a 22 bilhões, dos quais 17 bilhões seriam
africanos.
Ultrapassando Fronteiras
O relatório é da opinião de que a humanidade já ultrapassou as fronteiras
planetárias "seguras" em termos de perda de biodiversidade, mudança climática e
ciclo do nitrogênio, sob risco de sérios impactos futuros.
Segundo a Royal Society, além do planejamento familiar e da educação
universal, a prioridade deve ser também retirar da pobreza extrema 1,3 bilhão de
pessoas.
Pesquisadores recomendam o controle de natalidade em países em desenvolvimento |
E se isso significa um aumento no consumo de alimentos, água e outros
recursos, é isso mesmo o que deve ser feito, dizem os autores do relatório.
Nesse meio tempo, os mais ricos precisam diminuir a quantidade de recursos
materiais que consomem, embora isso talvez não afete o padrão de vida.
Eliminar o desperdício de comida, diminuir a queima de combustíveis fósseis e
substituir economias de produtos por serviços são algumas das medidas simples
que os cientistas recomendam para reduzir os gastos de recursos naturais sem
diminuir a prosperidade de seus cidadãos.
"Uma criança no mundo desenvolvido consome entre 30 e 50 vezes mais água do
que as do mundo em desenvolvimento", disse Sulston. "A produção de gás
carbônico, um indicador do uso de energia, também pode ser 50 vezes maior".
"Não podemos conceber um mundo que continue sendo tão desigual, ou que se
torne ainda mais desigual".
Países em desenvolvimento, assim como nações de renda média, começam a sentir
o impacto do excesso de consumo observado no Ocidente. Um dos sintomas disso é a
obesidade.
PIB
A Royal Society diz que é fundamental abandonar o uso do PIB como único
indicador da saúde de uma economia.
Em seu lugar, países precisam adotar um medidor que avalie o "capital
natural", ou seja, os produtos e serviços que a natureza oferece
gratuitamente.
"Temos que ir além do PIB. Ou fazemos isso voluntariamente ou pressionados
por um planeta finito", diz Jules Pretty, professor de meio ambiente e sociedade
na universidade de Essex.
"O meio ambiente é de certa forma a economia... e você pode discutir
gerenciamentos econômicos para melhorar as vidas de pessoas que não prejudique o
capital natural, mas sim o melhore", completa.
O encontro do Rio+20 em junho deve gerar um acordo com uma série de "metas de
desenvolvimento sustentável", para substituir as atuais metas de desenvolvimento
do milênio, que vem ajudando na redução da pobreza e melhoria da saúde e
educação em países em desenvolvimento.
Não está claro se as novas metas vão pedir o compromisso de que os países
ricos diminuam seus níveis de consumo.
Governos podem ainda concordar durante o encontro no Rio a usar outros
indicadores econômicos além do PIB.
FONTE: BBC
0 COMENTÁRIOS:
Postar um comentário