domingo, 15 de abril de 2012

POST 89: OS INCRÍVEIS CAMPOS NEBULARES DE SÃO PAULO


São Paulo dos Campos de Piratininga. São Bernardo da Borda do Campo. Os nomes antigos de duas cidades da Grande São Paulo dão a dica da vegetação que cobria boa parte da área antes da ocupação intensiva: os campos, extensões de vegetação baixa, entremeados por brejos e capões de mata, principalmente à beira de córregos e rios. Esse tipo de formação quase desapareceu da grande São Paulo. Quase. Porque ainda sobrevive um trecho de campos, chamados de campos nebulares (por causa da neblina que boa parte do dia, em qualquer época do ano, pode cobrir a região) dentro do município de São Paulo. Fica no pouco conhecido Núcleo Curucutu do Parque Estadual da Serra do Mar, em Marsilac, no extremo da Zona Sul da cidade, divisa com os municípios de São Vicente e Itanhaém.

Campos nebulares no Parque Estadual da Serra do Mar, Núcleo Curucutu
“Imagina, a gente poderia estar andando pela avenida Paulista no século XVI, talvez a paisagem fosse essa”, diz o biólogo Fabio Schunck. Ele faz um monitoramento das aves no Núcleo Curucutu desde 2007, parte de seu plano de mestrado, apoiado pelo pesquisador Luis Fabio Silveira, do Museu de Zoologia da USP. Todos os anos na mesma data, Schunck arma 20 redes de neblina para capturar aves nos campos nebulares. Sua intenção é anilhar uma espécie migratória, a Elaenia chilensis, ou guaracava-de-crista-branca. “Elas passam por aqui sempre na mesma data, capturo os indivíduos, anoto as características biológicas, anilho, fotografo e solto. Depois de poucos dias, elas desaparecem. Ainda não recapturei nenhum exemplar anilhado, mas já anilhei 75 indivíduos. Qualquer hora algum pesquisador captura uma destas guaracavas em outra localidade da América do Sul. Os poucos estudos disponíveis mostram que elas migram do Chile, subindo pela região leste do Brasil até o nordeste, passando pela Caatinga, Cerrado, Amazônia e retornando ao Chile pelos Andes, para se reproduzir. Mas os estudos ainda são inconclusivos”, ele diz.
O biólogo Fabio Schunck
retira uma ave da rede de neblina.
Foto Zé Edu Camargo
Além das guaracavas, muitas outras espécies caem nas redes de neblina, desde pequenos beija-flores até aves maiores, como andorinhões, arapongas e araçaris.

O Núcleo Curucutu está entre as áreas com a maior diversidade de aves da Serra do Mar, são cerca de 350 espécies registradas até o momento.

O parque tem uma trilha aberta à visitação, que leva a um mirante de onde, em dias claros, pode-se ver as cidades de Itanhaém, Monguaguá e Peruíbe, além da Serra da Jureia, a Ilha Queimada Grande e a Laje de Santos. “Em 2006, nessa trilha, avistamos o raro apuim-de-costas-pretas (Touit melanonotus), espécie que era pouco conhecida na época”, conta Schunck.

O que torna o parque não só interessante para quem quer conhecer a paisagem original de boa parte da cidade, como também para os observadores de aves.

Elaenia chilensis, espécie migratória que passa
por São Paulo em março. Foto Zé Edu Camargo

Um beija-flor rabo-branco-de-garganta-rajada na rede de neblina. Foto Zé Edu Camargo
Detalhe de um pitiguari anilhado durante o trabalho no Parque Estadual. Foto Zé Edu Camargo.
A neblina é comum durante parte do dia na região dos campos. Foto Zé Edu Camargo


FONTE: VIAJE AQUI

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