Nunca o homem se vangloriou tanto de suas conquistas intelectuais,
científicas, tecnológicas, assim como nunca antes reclamou com tanta intensidade
dos prejuízos que esse desenvolvimento trouxe ao meio ambiente. E é nessa leva
de conscientização atual que a construção civil se vê, a cada dia, mais obrigada
a implementar conceitos sustentáveis nas edificações de todo tipo.
Atualmente
existe uma demanda globalizada de produtos, fato gerado pela estreita relação
entre as nações através da facilidade de comunicação (internet, telefonia móvel,
satélites), da velocidade dos meios de transporte e, principalmente, da produção
em grande escala. No entanto, apesar dos diversos benefícios que o mercado
global oferece para o conforto dos mais isolados povos, surge o fator meio
ambiente como o maior afetado pelo consumo desequilibrado. E onde o arquiteto
tem responsabilidade na questão?
Nos diversos períodos da história,
observam-se construções características em cada região. As edificações em
mármore de Roma, o branco homogêneo das Ilhas Gregas e os tijolos
vermelhos aparentes da reconstruída Toulouse representam não somente o reflexo
da cultura de seus respectivos povos em forma de arquitetura, mas
primordialmente a condição imposta ao homem pela natureza quanto à
disponibilidade de matéria-prima. Obviamente que antigamente os construtores não
tinham muita opção, a não ser utilizar os materiais disponíveis no entorno
imediato exceto, talvez, no caso das grandes edificações públicas, devido ao
preço do transporte.
Mas,
além de cada povo ser imortalizado pelo seu estilo arquitetônico, ganhava-se em
vários aspectos técnicos, como por exemplo maior eficiência termo-acústica,
pelas grossas paredes de adobe ou de pedra. A natureza é perfeita, pois
“especifica” as matérias-primas que melhor se comportam no meio em que se
localiza.
Com o avanço tecnológico, o homem descobriu, exigiu e passou a
transportar materiais construtivos de uma cidade para outra, ocasionando
produção maior para cobrir a demanda e transporte até o requisitante. Estes
fatores são geradores de poluição, contribuem para o desequilíbrio ambiental e
acarretam perda de qualidade de vida. Sem contar as duvidosas soluções
importadas como, por exemplo, as empenas de vidro em climas tropicais, que levam
a nos questionar sobre até que ponto é saudável a satisfação estética em
detrimento do meio em que vivemos.
A importância do arquiteto no
controle ambiental é fundamental, pois quando uma solução bem sucedida é
utilizada em larga escala, modifica significativamente o contexto, visto que
onde há progresso, há edifício.
Um grande apoio a tais inovações é dado
através dos diversos eventos temáticos, que têm bastante visibilidade, quando
não dos formadores de opinião, das classes de poder aquisitivo elevado. Nessas
ocasiões, surge-se a grande oportunidade de se desvincular o projeto sustentável
da imagem de subsistência, de primitivismo, uma vez que buscam-se aplicações de
materiais, técnicas e tecnologia num modelo de bom gosto. Existe um público com
poder de compra que, mesmo com desejo pelo sustentável, evita ou teme a
arquitetura ecologicamente correta, por desconhecer as possibilidades
esteticamente favoráveis que a mesma pode proporcionar.
A atual
legislação de obras do Reino Unido, que exigirá a partir de 2016 um modelo
construtivo sustentável, dita uma nova ordem arquitetônica mundial, ratificando
o papel fundamental do arquiteto na recuperação do bem estar global.
O
Brasil tem um bem sucedido processo de responsabilidade ambiental, só que ele
está mais relacionado à pobreza e à falta de oportunidades no campo de trabalho
do que a uma preocupação social e governamental. Onde, por exemplo, catadores de
latinhas vêem na reciclagem sua tábua de salvação, há um avanço grande em
relação a soluções inovadoras e criativas.
Bons exemplos na construção são o reaproveitamento de alumínio proveniente de
embalagens longa vida para fabricação de telhas e a aplicação das garrafas PET
em iluminação zenital, como estrutura flutuante para casas fluviais ou até em
sistemas de aquecimento de água, evitando-se uma quantidade significativa de
despejo destes ditos “descartáveis” nos já saturados lixões.
Para que
situações como essas se tornem uma realidade mais próxima, sem mesmo a
necessidade de imposições legais, os profissionais têm a responsabilidade de
fazer da arquitetura bioclimática um motivo de ampla satisfação para os
clientes, seja ele pelo bem sucedido resultado estético, como principalmente o
retorno financeiro a médio prazo.
Deve-se demonstrar no papel os
benefícios relacionados a conforto, beleza, harmonia mas, principalmente,
economia, o que não é tarefa das mais fáceis. É preciso uma boa dose de
habilidade para convencer um cliente que determinada solução imediatamente mais
cara pode virar lucro no futuro.
Bom exemplo disso é o que acontece em
países como a Alemanha, cujas residências com sistema de geração próprio de
energia (eólica e solar, essencialmente) que, quando acumulada em excesso, pode
ser transferida para a rede da concessionária, gerando créditos ao próprio
consumidor. Em nosso país, este artifício ainda não é regulamentado, mas não
tardará para acontecer.
O quanto antes buscarmos soluções racionais e
viáveis, mais rápido teremos resultados no futuro. Cabe a cada um reconhecer
como, onde e o quê é lucrativo nesse mercado. E se os profissionais fizerem sua
parte, a sociedade como um todo só tem a ganhar.
FONTE: COMUNIDADE OBRA SUSTENTÁVEL