Há algumas semanas um jornalista da revista eletrônica me encaminhou umas perguntas relacionadas à sustentabilidade para uma reportagem que ele estava escrevendo e que foi publicada aqui.
Estava revisando as respostas que enviei e acho que é valido compartilhá-las no CS!.
Vejam abaixo.
O que é ser sustentável? Qual é o objetivo das ações sustentáveis?
Ser sustentável é fazer o “futuro, agora”. Ou seja, é ter uma visão de longo prazo e entender que esta visão tem de ser construída a partir de decisões e ações tomadas e realizadas agora. Isto serve tanto para empresas e governos, que trabalham (ou deveriam trabalhar) em cenários 10-20 anos, como para as pessoas, no seu cotidiano.
Pensemos, por exemplo, numa empresa de mineração, que começa agora seu ciclo de exploração de uma jazida mineral, o qual durará, vamos dizer, 70 anos. Esta exploração terá inevitavelmente impactos ambientais, econômicos e sociais, especialmente sobre as comunidades do entorno.
Ser sustentável, neste caso, implica, entre outras coisas, não apenas implantar processos ambientalmente adequados, mas pensar em qual será a herança deixada para as comunidades locais quando a mina fechar, daqui a 70 anos, o que é chamado de descomissionamento.
Será preciso pensar desde agora em ações que permitam às comunidades em questão desenvolver novas vocações econômicas, de forma a que, quando a mina fechar, deixe uma sociedade mais rica e diversa, e não “cidades fantasmas”, como acontecia no passado.
Ou seja, o objetivo de qualquer ação sustentável é garantir a perenidade do negócio em equilíbrio com as necessidades de proteção do meio ambiente e de enriquecimento da sociedade como um todo.
É possível ser 100% sustentável?
O ganho que a sustentabilidade traz é, paradoxalmente, o sentido de “imperfeição”. Com isso quero dizer que não existe empresa, governo, organização ou pessoa 100% sustentável. Nem nunca existirá. A nossa simples existência neste planeta, com a capacidade de intervenção e recriação do ambiente natural típica dos seres humanos, já faz com que tenhamos impactos.
A consciência desta realidade traz de novo à tona outro conceito, o de “processo”. Ou seja, podemos não ser 100% sustentáveis, mas devemos empreender todos os esforços possíveis e necessários para seguir nesta direção. A posição relativa em que cada pessoa, empresa ou governo está no processo de tornar-se sustentável dita o ritmo pelo qual este conceito – e suas práticas – se incorporam em nosso cotidiano.
Mas com toda certeza está perto o momento em que a sustentabilidade estará tão incorporada às políticas e práticas pessoais ou corporativas que não fará mais sentido sequer falar disso. Chamo isto de “otimismo realista”, no sentido em que o mundo não comporta uma opção diferente, se queremos seguir vivendo neste planeta.